O POSTE TELEGRÁFICO – MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

August 20th, 2013  |  Published in General

O POSTE TELEGRÁFICO
Er’alto, muito alto. Outr’ora, verdejante,
Viveu num pinheiral; foi um pinheiro. Tinha
No tronco erguido ao ar, ramagem, muita pinha,
E a seiva percorria o corpo do gigante.

Se o rapazio da vila, a chilrear, trepava
Pelos seu ramos, ele – avô bonacheirão –
Em vez de se zangar, até os ajudava,
De forma que nenhum vinha para o chão.

Em suma era feliz. Robusto, resistia
Ao vento, ao sol, à chuva, à neve, à tempestade;
Mas como nunca é eterna a f’licidade,
A golpes de machado ele tombou um dia.

Hoje é um poste liso. É esguio, é feio e forte,
Não tem vida nem seiva. Imóvel está ali
À beira de um trigal… Que triste a sua sorte!
A árvore tornou-se em um imenso I…

No topo ele sustenta os fios da longa meada
Que entrelaçando o mundo, ao mundo as novas leva:
<<Paris 8, manhã: – Rostand doente. Neva.>>
<<Belgrado: 22 – A Sérvia revoltada.>>

As notícias banais e as novas d’importância;
Inventos, revol’ções, catástrofes e guerras;
Nos fios circula tudo. Os homens, numa ânsia,
Informam-se e assim ‘stão perto as longes terras.
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MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO (1890 – 1916) – Poemas Completos
(edição de Fernando Cabral Martins)

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